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Oct 7, 2020

Carlos Moedas dispensa grandes apresentações. Engenheiro de formação, é atualmente administrador da Fundação Gulbenkian e foi, até ao final do ano passado, comissário europeu com a pasta da Investigação, Ciência e Inovação, responsável pela gestão do maior programa de ciência do mundo (80 mil milhões de euros). Anteriormente, foi o responsável no governo de Passos Coelho pela coordenação do Programa de Ajustamento. Mas a carreira política veio só depois dos 40 anos - antes, teve uma carreira ligada à banca de investimento e investimento imobiliário.

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O pretexto para esta conversa foi o livro lançado pelo convidado já este ano (mesmo antes da pandemia), ‘Vento Suão - Portugal e a Europa’, um livro que reúne as crónicas semanais que publicou durante os anos de comissário.

Sendo o autor dessas crónicas comissário europeu, uma espécie de ministro do governo da Europa, está longe de ser um observador imparcial da União Europeia, mas, ao mesmo tempo, alguém que tem uma perspectiva rara dos meandros da Europa e, em particular no caso do convidado, alguém que tem uma visão para o projecto europeu. Foi essa visão que tentei compreender -- e também desafiar, a partir da minha posição também de europeísta, mas um não tão optimista em relação ao estado actual e ao potencial real da UE. 

Durante esta hora e picos de conversa, falámos sobre vários aspectos da Europa, mas acabámos por regressar sempre a dois, em particular: um deles é a forma como a governação da UE está organizada, num quadro institucional peculiar que gera lentidão e uma tensão permanente entre as instituições comunitárias, como a Comissão, e os vários governos nacionais (como se viu ainda recentemente na negociação do pacote de estímulo pós-pandemia; por agora, a tensão desvaneceu, mas as causas mantêm-se). O outro aspecto de que falámos é menos tangível mas é o que verdadeiramente (às vezes quase nos esquecemos) é a base de qualquer projecto de integração política: uma noção de comunidade. Neste caso, será que temos dado verdadeiramente passos para construir uma comunidade cívica à escala da Europa, para lá dos velhos Estados-nação?   

No último trecho, tivemos ainda tempo para discutir a visão do convidado sobre o futuro, em particular sobre o impacto das alterações que o digital veio trazer, nomeadamente sobre nas democracias, que terão de se reinventar se querem sobreviver. É uma altura interessante para ter desta discussão, uma vez que pandemia (e também falamos disso) veio tornar ainda mais presentes estas tecnologias

 

Índice da conversa:

  1. Livro de crónicas do convidado: Vento Suão - Portugal e a Europa
    1. União Europeia
    2. Porque é importante a UE
    3. Livro: The Brussels Effect: How the European Union Rules the World Kindle Edition, de Anu Bradford
      1. California effect
    4. Tensão Comissão Europeia vs. Conselho 
    5. -> Continua a faltar uma ‘nação’ europeia?
    6. A crise do Euro 
    7. O efeito da pandemia
    8. Pascal Lamy
    9. Stefan Zweig - Appels aux Européens
    10. Os frugais
    11. Europa lidera no top 10% de artigos científicos mais citados
    12. -> Que melhorias institucionais são necessárias na UE?
    13. Regra da unanimidade 
    14. Spitzenkandidat
    15. -> O que explica porque algumas áreas da governação foram transferidas para a UE e outras não?
    16. As audições aos futuros comissários no Parlamento Europeu
  2. O futuro da democracia representativa na era digital
    1. Experiência em França, com cidadãos a participar em assembleias deliberativas
    2. O papel do digital na sociedade pós-pandemia
  3. Livros recomendados
    1. The Usefulness of Useless Knowledge, de Abraham Flexner
    2. Philippe Aghion
    3. Kishore Mahbubani
    4. Breve História da Europa, de Simon Jenkins

 

Esta conversa foi editada por: Martim Cunha Rego

 

Obrigado aos mecenas do podcast:

Paulo Peralta, Nuno Costa, Miguel Marques, Filipe Bento Caires, Goncalo Murteira Machado Monteiro, Gustavo, Margarida Varela, Corto Lemos, Joana Faria Alves, Carlos Martins, Tiago Leite, Salvador Cunha, João Baltazar, Rui Oliveira Gomes, Miguel Vassalo, Francisco Delgado

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Bio: Carlos Moedas nasceu em Beja, em 1970. É licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico. Frequentou a École Nationale des Ponts et Chaussées de Paris. Em 1998, obteve um MBA – Master of Business Administration – na Universidade de Harvard. Iniciou a carreira no grupo Suez, em França, trabalhou vários anos em Londres e criou a sua própria empresa em Portugal. Em 2011, foi eleito deputado e tornou-se secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro do XIX Governo Constitucional, com responsabilidade pela coordenação do Programa de Ajustamento. Em 2014, tornou-se o quinto português a exercer as funções de comissário europeu, tendo gerido o maior programa de ciência do mundo (80 mil milhões de euros). É o mais jovem membro da Academia de Engenharia de Portugal. É medalha de ouro da Ordem dos Engenheiros e membro honorário da Academia de Ciência Africana. Recebeu o doutoramento honoris causa em Direito pela Universidade de Cork, na Irlanda, e outro doutoramento honoris causa pela École Supérieure de Commerce de Paris. É hoje administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.