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Sep 24, 2020

Filipe Nobre Faria é doutorado em Teoria Política (2016) pelo King's College London e professor na Universidade Nova de Lisboa, com investigação nas áreas de filosofia política e ética . 

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Conversámos a propósito do livro recente do convidado, ‘The Evolutionary Limits of Liberalism’ (os limites evolutivos do liberalismo). É um tema que vem mesmo a calhar, tendo em conta que junta filosofia política à biologia evolutiva, precisamente dois assuntos que estou farto de discutir aqui no 45 Graus.

Resumidamente, no livro o Filipe faz uma análise à sustentabilidade da moral liberal, típica das democracias ocidentais, à luz da teoria evolucionista de Darwin. Por ‘moral liberal’ entenda-se a primazia dada ao indivíduo, que está na base das ideologias dos principais partidos do sistema nos países ocidentais (e não só), que defendem, em maior ou menor medida, princípios como a democracia, mercados livres, estado de direito, direitos civis,  direitos humanos, secularismo, igualdade de gênero, igualdade racial , internacionalismo, liberdade de expressão, etc etc.

Na sua análise, o Filipe tenta, então, medir directamente a ‘fitness’ evolutiva (i.e., a adaptabilidade) desta moral à luz da selecção natural: ou seja, avalia em que medida é que uma moral baseada no primado da liberdade individual gera ou não coesão e promove a natalidade dos grupos.

As conclusões, já vão ver, não são as melhores para o paradigma liberal.

Este é um trabalho oportuno, porque ajuda a enquadrar a raiz de alguns dos desafios que o modelo liberal enfrenta actualmente; sejam as ameaças que vêm de dentro, como a ascensão de movimentos populistas e anti-sistema, sejam as ameaças que vêm de fora, como a aparente perda de força das democracias no plano internacional face a Estados autocráticos como a China ou a Rússia, com a sua visão a longo-prazo e menores pruridos éticos. 

Preparem-se: como todas as conversas filosóficas, que nos forçam a revisitar as fundações das nossas convicções, esta foi uma conversa desafiante e, por vezes, admito que algo confusa de seguir, tal o número de dimensões em cima da mesa e a complexidade do objecto de análise. No final, embora discorde de alguns aspectos da tese do Filipe, foi sem dúvida uma conversa muito estimulante, que me deixou a pensar nos dias a seguir. 

 

Índice da conversa:

  1. Liberalismo
  2. Modelo de seleção de grupo (multinível)
  3. A função da moralidade
  4. Aptidão reprodutiva vs prosperidade
  5. Falácia naturalista
  6. Revolução cultural chinesa
  7. A vida nos Kibbutz
  8. Teoria do mismatch
  9. Gene-culture coevolution
  10. Hayek e a vantagem evolutiva do liberalismo
  11. Críticas contemporâneas ao liberalismo quer à esquerda quer à direita
  12. Jogos de soma positiva
  13. Lógica normativa vs naturalista
  14. O caso de Portugal, que é um país considerado colectivista (à escala europeia), mas tem das mais baixas taxas de natalidade
    1. Hofstede
    2. Taxas de natalidade
    3. Capital social
    4. Dados do World Social Capital Monitor
  15. A sedução dos regimes autocráticos
  16. Será que a teoria da selecção de grupo caiu em desuso após a II GM em virtude da aversão das sociedades a ideologias colectivistas?
  17. Teoria da escolha racional
  18. A União Europeia e a dificuldade em criar uma comunidade cultural à escala europeia
  19. A coexistência, nas sociedades contemporâneas ocidentais, da moral liberal com outras morais, colectivistas e/ou tradicionais
    1. Jonathan Haidt e a Teoria dos fundamentos morais
    2. O exemplo dos Amish: <Amish Projected To Overtake The Current US Population In 215 Years, If Growth Rates Continue>
  20. David Benatar - livro <Better Never to Have Been: The Harm of Coming into Existence>
  21. A (alegada) insustentabilidade do Liberalismo ajuda a explicar a ascensão dos movimentos populistas?
    1. Karl Polanyi
  22. Recomendações do convidado para gerar uma moral mais sustentável nas sociedades contemporâneas
  23. Livro recomendado: <The WEIRDest People in the World: How the West Became Psychologically Peculiar and Particularly Prosperous>, de Joseph Henrich

 

Obrigado aos mecenas do podcast:

Paulo Peralta, Eduardo Correia de Matos, João Baltazar, Salvador Cunha, Rui Oliveira Gomes, Tiago Leite, Joana Faria Alves, Carlos Martins, Corto Lemos, Margarida Varela, Gustavo, Goncalo Machado Monteiro, Filipe Bento Caires, Rui Barbosa

Tomás Costa, Tiago Neves Paixão, Joao Saro, Rita Mateus, Daniel Correia, António Padilha, Abilio Silva, Ricardo Duarte, Tiago Queiroz, Joao Salvado, Francisco Fonseca, João Nelas, Diogo Sampaio Viana, Rafael Santos, Carmen Camacho, José Soveral, Andre Oliveira, José Jesus, Ana Sousa Amorim, Luís Costa, Sara Mesquita, João Bernardino, Manuel Martins

Vasco Sá Pinto, Rui Baldaia, Luis Quelhas Valente, Rui Carrilho, João Castanheira, Luis Marques, Joana Margarida Alves Martins, Tiago Pires, Francisco dos Santos, João Raimundo, Renato Vasconcelos, Marta Baptista Coelho, Hugo Correia, Mariana Barosa, Miguel Palhas, Pedro Rebelo, Nuno Gonçalves, rodrigo brazão, Pedro, Vasco Lima, Tomás Félix, José Carlos Abrantes, Duarte, José Galinha, José Oliveira Pratas, isosamep, João Moreira, Joao Pinto, Pedro alagoa, Francisco Aguiar, José Proença, Joao Diogo, JP, Marco Coelho, João Diogo Silva, Jose Pedroso, António Amaral, João pinto, Rodrigo Murteira Pedrosa, João Jaime, João Crispim, Ricardo Nogueira, Margarida Gonçalves, Miguel Lamela, Andrea Grosso, João Pinho, Andre Peralta Santos, Abílio Mateus, Paulo dos Santos, Telmo, Cátia João Prudêncio, Sérgio Catalão, joao Martins, Luis Filipe, Jose António Moreira, João Barbosa, Fonsini, Maria Francisca Couto, Carlos Magalhães Lima, Renato Mendes, Andreia Esteves, Alexandre Freitas, Tiago Costa da Rocha, Francisco Santos, Pedro F. Finisterra, Guilherme Pimenta Jacinto, Antonio Albuquerque, Fernando Sousa, juu-san, joana antunes, Francisco Vasconcelos, Gabriela, Paulo Ferreira, MacacoQuitado - Twitter, Pedro Correia, Francisco López Bermudez, Nuno Almeida, Carlos Silveira, Bruno Lamas, Francisco Manuel Reis, Diogo Rombo, Francisco Rocha, Fábio Mota, Diogo Silva, Tiago Gameiro, Pedro Conceição, Patrícia Esquível, Inês Patrão, Luis Miguel da Silva Barbosa, Albino Ramos, Daniel Almeida, Ricardo Campos, Ricardo Leitão, Vítor Filipe, João Bastos, Natália Ribeiro, André Balças, Hugo Domingues, Filipe Melo

 

Esta conversa foi editada por: Martim Cunha Rego


Bio: Filipe Nobre Faria investiga e lecciona em filosofia política e ética na Universidade Nova de Lisboa. Anteriormente, obteve o seu doutoramento em Teoria Política (2016) pelo King's College London e o seu mestrado em Filosofia, Política e Economia (2011) pela Universidade de East Anglia. Leccionou também nas áreas de teoria política e de economia política no King's College London. O seu principal interesse de investigação reside em aplicar o conhecimento das ciências comportamentais e evolutivas a questões de filosofia social e política.