Mar 13, 2019
Ricardo Paes Mamede é professor
de Economia Política na Escola de Ciências Sociais e Humanas do
ISCTE. Para além disso, é membro do Conselho Económico e Social, um
dos autores do blog Ladrões de Bicicletas, autor de livros sobre
economia - o mais recente dos quais ‘A Economia Como Desporto de
Combate’ - e é, desde há alguns anos, comentador regular na
televisão.
O convidado é dos economistas
portugueses mais reputados e um caso particular, porque não só não
evita como assume abertamente transmitir a visão de um “economista
de esquerda”. Aliás, confesso que o meu objectivo até era ter uma
conversa mais sobre a economia enquanto ciência, mas rapidamente a
economia política tomou conta da conversa.
Como é hábito no 45º, tocámos
numa série de assuntos.
- Começámos por discutir a visão do convidado em
relação às limitações da ciência económica. Desde logo, do
currículo que é dado nos cursos da faculdade, mas também da própria
investigação que é feita. E o Ricardo faz observações muito
relevantes a este respeito. Por um lado, nota que as verdades em
economia, quando as conseguimos encontrar, são sempre específicas a
um tempo e espaço (e não gerais, portanto). Por outro, argumenta
que as conclusões da investigação são sempre influenciadas pelos
valores de quem investiga, até na escolha dos indicadores que se
privilegia quando se avalia uma realidade económica que é, sempre,
ultra-complexa, com efeitos de ordem diferente e desfasados no
tempo. Dito isto, embora partilhe de alguma dessa embirração, não
concordo, como já vou explicar, que em economia tudo seja
relativizável.
- Seguidamente, a conversa levou-nos a muitos dos
debates centrais da Economia Política, como: Keynes e contexto
histórico do keynesianismo; a história do capitalismo, o
neoliberalismo (na definição particular do convidado), o papel
explicativo da qualidade das instituições, para lá de políticas de
esquerda ou direita, sobre a prosperidade económica dos países e
ainda o caso específico do modelo económico das chamadas
sociais-democracias escandinavas (que combinam uma economia
capitalista competitiva com um Estado Social forte).
- Finalmente, tentei desafiar o convidado para
algo que considero faltar em Portugal. É que, apesar das ditas
limitações da ciência económica e de muitos economistas com acesso
próximo aos ouvidos dos políticos terem inflacionado as capacidades
reais da disciplina, julgo que existem bons exemplos de conclusões
da investigação que são relativamente transversais à orientação
política dos investigadores, e que fazia falta que tivessem mais
protagonismo no debate político, que é tantas vezes, de um lado e
de outro, ignorante e simplista. Acho mesmo que esse é um contributo que os economistas,
enquanto cientistas, ainda que sociais, podiam dar conjuntamente.
Um bom exemplo disto de que falo, noutra realidade, foi o exercício
feito pelo podcast Planet Money da NPR (rádio pública dos Estados
Unidos), que conseguiu identificar cinco grandes medidas de reforma
fiscal apoiadas por economistas da esquerda à direita. Encontram,
como habitual, o link na descrição do episódio.
- No
final do episódio, falámos ainda das limitações do PIB e de
políticas potenciais de crescimento económico em
Portugal.
Torne-se
mecenas do podcast, a partir de 2€, através do
Patreon!
Obrigado aos mecenas do podcast:
- Gustavo Pimenta
- João
Vítor Baltazar; Salvador Cunha; Ana Mateus; Nelson Teodoro; Paulo
Ferreira; Duarte Dória; Gonçalo Martins; Tiago Leite
- Abílio Silva; Tiago Neves Paixão; João Pinto;
Daniel Correia; João Saro; Rita Mateus; Tomás Costa
- Vasco
Sá Pinto; David; Pedro Vaz; Luís Ferreira; André Gamito, Rui
Baldaia; Henrique Pedro; Manuel Lagarto; Rui Carrilho; Luis Quelhas
Valente; Tiago Pires; Mafalda Pratas; Filipe Ribeiro; Renato
Vasconcelos; João Salvado; Joana Martins; Luís Marques; João
Bastos; João Raimundo; Francisco Arantes; Francisco dos Santos;
Mariana Barosa
Ligações:
Bio: Doutorado em Economia pela Universidade
Bocconi (Itália), Mestre em Economia e Gestão de Ciência e
Tecnologia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da
Universidade de Lisboa (ISEG/UL), e Licenciado em Economia pela
mesma instituição. Professor Auxiliar e Subdirector do Departamento
de Economia Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa,
onde lecciona desde 1999 nas áreas da Economia e Integração
Europeia, da Economia Sectorial e da Inovação, e das Políticas
Económicas. É actualmente Director do Mestrado em Economia e
Políticas Públicas do ISCTE-IUL e Presidente da Direcção do
Instituto para as Políticas Públicas e Sociais (IPPS-IUL). Entre
2008 e o início de 2014 foi Coordenador do Núcleo de Estudos e
Avaliação do Observatório do QREN. Foi Director de Serviços de
Análise Económica e Previsão do Gabinete de Estratégia e Estudos do
Ministério da Economia e da Inovação em 2007 e 2008. Membro do
Conselho Económico e Social desde 2017, eleito na qualidade de
Personalidade de Reconhecido Mérito. Membro do Dinâmia'CET (Centro
de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território).
Interesses de investigação: mudança estrutural e desenvolvimento
económico, dinâmicas sectoriais e inovação, e políticas
públicas.